sábado, 19 de maio de 2012
O anticristo
Vem a mim os que tem fome de carne e vós dareis o que comer.
Pois sou a própria dor , a mentira e a morte.
De mim arrancas o pedaço , lambuzar-se desse sangue e cospe
pois sou insonso aos humanos.
Vem a mim os velhos pois é deles o meu reino.
Vem a mim os que são cegos, pois eu sou a própria escuridão.
Vem a mim os que querem sexo e eu vós dareis meu corpo
para que comam como sádicos.
Vem a mim os que sofrem , pois eu sou o próprio sofrimento.
Sou a doença que tens na alma. E sou eu que vós arrastareis por
inferno.
Louvam-me como a um Deus , pois já me elegi falso e por isso
sou autêntico.
Espalhem minhas palavras sobre todas as terras e nações , todos os
povos e religiões. E gritem minha existência.
Eu sou filho do homem e só dele sou.
Rogo que lamentem minha partida, pois tenho que pregar o décimo terceiro
evangelho.
'' Dez mil cairão a tua direita e dez mil a tua esquerda'' mas não temas pois eu sou contigo , e eu sou a própria queda.
Atiras em tu a própria pedra pecador e depois em teu irmão até o fim dos dias.
Porque deste modo eu falo e assim está escrito.
sábado, 12 de maio de 2012
O Eu-Mariposa
O poeta se desfez em palavras, a única que lhe restou foi o Eu.
E o Eu se agregava as letras formando outras palavras assim: Teu, meu e seu.
E de repente o Eu viu um movimento frenético que embarreirava a luz, o Eu constatou que era uma Mariposa. E perguntou - O que tentas Mariposa? A Mariposa respondeu - Transcender a luz !
E o Eu tão pequeno, se sentiu preenchido de satisfação e começou a fazer torcida pela Mariposa, repetindo essa palavra incansavelmente: Transcenda, transcenda, transcenda...!
segunda-feira, 7 de maio de 2012
A curandeira
Quizumba,
Zuada,
Maculelê,
Maracatu.
Falava alto a curandeira,
e repetia, e repetia...
Feitiço , porção e casco de tatu.
Esfumaçava a sala , a curandeira.
Erva-doce, quebra-pedra e cidreira.
E gritava alto a rezadeira.
- ''sorte aos vivos'' ,pedia a feiticeira.
Talvez nem ela mesma soubesse de que era curandeira.
sábado, 5 de maio de 2012
A revolução dos mortos
No alto da mais alta lápide, ergue-se um morto.
Que toma a palavra sobre os uivos do cemitério.
- ''Caros amigos vós peço sua total atenção ao que digo,
almas abandonadas que vagam em fila indiana, perdidas e desprezadas.
Que se reúnem em procissão.Esqueletos, ossos e cadáveres em decomposição, outra vez solicito vossa atenção.Lhes faço algumas perguntas:
Por que vivemos enclausurados nesse lugar podre?
Só por que estamos mortos não merecemos os prazeres do mundo?
Só por que estamos mortos não choramos ou rimos, quer dizer , que quando morremos perdemos os nossos sentimentos e desejos?
Só os vivos merecem os prazeres e afetividade? Devemos obedece-los meus irmãos? Devemos aceitar tudo dessa forma , como se fosse natural? Eles nos jogaram nesse depósito macabro e nos esqueceram, e devemos deixar por isso mesmo ou vamos derrubar os portões desse cemitério e tomar pela força o que nos é de direito? A vida não se sobrepõe à morte meus companheiros, mas hoje a morte vai se sobrepor à vida.''
E em meio a gritos e uivos descontrolados a multidão fúnebre arrombou o cemitério e ocuparam toda a cidade , estava decretada a revolução.
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