segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O nascimento do corpo






Pelo barro torna-se forma, contorno e vísceras.
No sangue escorre água: venosas veias pulsantes.
E de repente escuta-se a batida pelo calor do coração.
Todo vento voa pra cabeça.
 

Engendrada a forma e os princípios físicos,
o corpo ainda reclamava por seus órgãos.

Em um passe é dado a ele a palavra, esta transforma-se em sua língua
e vai abrindo os vácuos da garganta.
Nas mãos de barro - pedras calejadas, os dedos adquirem condutas articuladas.
Os pés espinhos e tortos vão sendo aos poucos aperfeiçoados pelo andar no chão.

Tirando da luz do sol a visão dos olhos.
Do cheiro das flores o olfato.
Das ondas do mar a audição.
Do gosto ácido o paladar.

E rastejando põe-se a andar.
Dos órgãos sexuais à arquitetura do sexo.
Curiosas formas redondas, cilíndricas e cortadas ao meio, triangulares e fechadas.
Dar-se assim ao corpo capacidade gerativa - o corpo enfim nasce.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Esmália - Sec XXI , tributo a Alphonsus Guimaraens


 As asas que Deus lhe deu
reflutaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Desceu ao mar, levaram as ondas,
Subiu ao céus, entrou nas nuvens...

No auge de Morfeu, ressurgiu
A loucura  bem medida.
Então , pois-se decidida em se despedir de sua vida.



O verbo


 No princípio era o verbo,
 e o verbo habitou a terra se transmutou
  transitivo. Se fez músculo da língua
 escrita e oral, e ficou condenado
 nas trevas do contexto gramatical.

O olhar da lua

 Calmo, penetrante
 no instante do momento
  deixar na pele, senti-lo calmamente.
Um olhar ético com privacidade
mesmo assim profético que há
sempre de dizer a verdade.

Ótica da noite, o brilho das estrelas
ao extremo norte do universo.
no nordeste da terra.
Onda de amor, propagada
gigante natureza da cratera.

Simbolista aquele olhar,
transcendeu  a alma vã e
o efêmero sonho de amor.
Como pode então amar?
Se o mundo é efêmero e a morte está a todos procurar?
Está  no amor o olhar a encontrar.


A maldição da palavra

O poeta é um ser amaldiçoado pela maldição da palavra.
Ao contrario dos que pensam que o poeta controla a palavra , a  palavra é indissociável de sua liberdade. Nasce palavra e morre palavra.
A palavra detesta controladores, principalmente aqueles que se acham humanos.
Fica irritada com aqueles que pensam dominá-la, pois a  palavra é sempre palavra não importa o que dizem dela.



Poema aproximado


 É preciso ver o poema por uma lenta de aproximação.
 Se aproximar do papel, da palavra e entrar no poema.
 Ser o poema ou pelo menos se poetizar com sua poética.
 O poema pede proximidade, ele gosta de está junto e de ser íntimo do leitor.
 Então chegue mais perto! 



Catador de palavras


Nasci mudo se hoje falo é por insistência de minha  mãe, que colocava as palavras na minha boca, que me fazia engolir as frases me dando sopa de letrinhas. E mesmo assim  detestava falar, falava apenas o suficiente para sobreviver num mundo de palavras. Depois de certo tempo, pensei melhor e resolvi que realmente não gostava de falar. Decidir catar palavras, procurando
 boas rimas ricas e belas entonações, períodos e frases e assim me tornar poeta.
Largando de uma vez por todas a irritante mania de falar.